Os Impactos da Liquidação do Banco Master nos RPPS de Servidores Públicos

Os Impactos da Liquidação do Banco Master nos RPPS de Servidores Públicos

Os Impactos da Liquidação do Banco Master nos RPPS de Servidores Públicos

A Dimensão do Risco Previdenciário

A liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central em 18 de novembro de 2025, representa uma ameaça sistêmica aos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) de 18 estados e municípios brasileiros. De acordo com o Ministério da Previdência Social, esses fundos investiram aproximadamente R$ 1,86 bilhão em letras financeiras emitidas pelo banco entre outubro de 2023 e dezembro de 2024 — recursos que hoje encontram-se imobilizados e sem proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

O impacto é concentrado: o Rio de Janeiro lidera com R$ 970 milhões (52% do total exposto), seguido pelo Amapá com R$ 400 milhões e Maceió com R$ 97 milhões. Outros entes menores, como Santo Antônio de Posse (SP) com R$ 82 milhões e Itaguaí (RJ) com R$ 62 milhões, também enfrentam perdas significativas em suas carteiras.

Por Que os RPPS Não Têm Proteção do FGC?

Essa é uma questão fundamental. Os RPPS são regimes públicos de previdência social, não fundos de pensão privados. Eles administram diretamente os recursos destinados ao pagamento de aposentadorias e pensões de servidores municipais e estaduais. Como investem em letras financeiras — instrumentos privados não cobertos pelo FGC — ficam expostos a riscos de instituições financeiras.

Diferentemente dos fundos de pensão privados (PREVIC), que possuem regulação rigorosa e diversificação de carteiras, os RPPS historicamente enfrentam deficiências de governança e pressão por rentabilidade para alcançar metas atuariais, levando-os a aceitar ativos de risco superior.

Risco de Interrupção no Pagamento de Benefícios

O cenário mais preocupante é o potencial comprometimento das obrigações atuariais. Especialistas alertam que, em caso de recuperação parcial dos valores investidos, o equilíbrio financeiro dos RPPS pode ser severamente afetado, reduzindo a capacidade de pagamento futuro de aposentadorias e pensões.

Considerando que esses fundos administram os direitos de aposentados, pensionistas e ativos, estamos falando de centenas de milhares de servidores públicos com seus direitos previdenciários ameaçados.

Institutos mais vulneráveis:

  • Rioprevidência (RJ): 235 mil servidores e beneficiários
  • Amprev (AP): População significativa de servidores amapaenses
  • Diversos institutos municipais com carteiras menores

Respostas e Medidas Mitigadoras em Andamento

Rioprevidência, responsável pelo maior volume exposto, afirmou publicamente que "os pagamentos estão assegurados no curto prazo" e está negociando a substituição das letras financeiras por precatórios federais — uma estratégia para converter ativos ilíquidos em créditos contra a União com maior garantia.

Porém, essa negociação é morosa e incerta, deixando os demais RPPS em situação mais frágil:

  • Itaprevi (Itaguaí-RJ) pediu auditoria ao Tribunal de Contas da União (TCU), denunciando possível omissão do Banco Central na detecção e contenção das irregularidades.
  • Governo Federal acionou a Polícia Federal para investigar possíveis operações suspeitas entre o Rioprevidência e o Banco Master.
  • Sindicatos de servidores (como ANDES) mobilizaram-se para cobrar transparência e proteção dos direitos previdenciários.

Problemas de Governança Estruturais

O caso revela falhas sistêmicas na gestão previdenciária pública:

  1. Falta de diversificação: Os RPPS concentraram investimentos em uma única instituição financeira
  2. Pressão atuarial: A necessidade de atingir metas de rentabilidade os empurrou a ativos de risco elevado
  3. Supervisão deficiente: O Banco Central não adotou medidas mesmo com indícios de irregularidades detectadas antes da liquidação
  4. Ausência de legislação de responsabilidade previdenciária: Não há marcos legais que estabeleçam obrigações de diligência para gestores de RPPS

Impacto Futuro e Perspectivas

A recuperação dos valores será longa e incerta. Na fila de credores da liquidação, os RPPS ocupam posição de credores sem garantia — significando que receberão apenas o remanescente após o pagamento de credores com garantias e do FGC.

Estimativas apontam que 1,6 milhão de credores reclamam R$ 41 bilhões dos ativos do Banco Master, tornando essa a maior recuperação de créditos na história do setor bancário brasileiro.

Enquanto isso, os aposentados e pensionistas aguardam respostas: seus direitos constitucionais — de natureza alimentar — estão em compasso de espera enquanto a máquina judiciária se move.

Veja a matéria: Dono do Banco Master é Solto após Decisão da Justiça Federal