O Aumento da Violência contra Servidores Públicos no Brasil: Uma Relação com o Empobrecimento, o Sucateamento dos Serviços e a Baixa Qualidade da Educação

O Aumento da Violência contra Servidores Públicos no Brasil: Uma Relação com o Empobrecimento, o Sucateamento dos Serviços e a Baixa Qualidade da Educação

O Aumento da Violência contra Servidores Públicos no Brasil: Uma Relação com o Empobrecimento, o Sucateamento dos Serviços e a Baixa Qualidade da Educação

Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado um preocupante aumento na violência contra servidores públicos, manifestada não apenas em agressões físicas, mas também em formas de assédio moral e institucional. De acordo com dados da Justiça do Trabalho, entre 2020 e 2024, foram julgados mais de 450 mil casos de assédio moral, muitos deles envolvendo funcionários públicos expostos a ambientes tóxicos e estressantes. Esse fenômeno não surge isolado, mas está intrinsecamente ligado a fatores socioeconômicos profundos, como o empobrecimento da população acumulado ao longo das décadas, o sucateamento progressivo dos serviços públicos e a persistente baixa qualidade da educação pública. Esses elementos formam um ciclo vicioso que agrava as tensões sociais e direciona a frustração popular contra os agentes do Estado, vistos como representantes de um sistema falho.

O empobrecimento da população brasileira, embora tenha apresentado uma redução recente, reflete um histórico de desigualdades que persiste e alimenta a violência. Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, as taxas de pobreza atingiram o maior patamar desde 2012, com um aumento de até 4,7 pontos percentuais entre 2020 e 2021. Essa vulnerabilidade econômica gera desesperança e raiva, especialmente em comunidades carentes, onde a falta de oportunidades leva a uma maior propensão a conflitos. Estudos indicam que a relação entre pobreza e violência é complexa, com a marginalização econômica acentuando a exclusão social e direcionando agressões contra símbolos do poder público, como professores, médicos e funcionários administrativos. Quando a população empobrecida enfrenta dificuldades diárias, como desemprego e fome, os servidores públicos – muitas vezes os primeiros a lidar com demandas não atendidas – tornam-se alvos de represálias.

Esse cenário é agravado pelo sucateamento dos serviços públicos, uma estratégia que tem sido criticada como intencional para justificar privatizações. Ao longo dos anos, especialmente durante governos recentes, houve um desmonte deliberado, com cortes orçamentários e precarização do trabalho, resultando em serviços ineficientes e sobrecarregados. Exemplos incluem o enfraquecimento da saúde pública e dos transportes, onde a lentidão e a má qualidade geram insatisfação generalizada. Nesse contexto, os servidores, que operam com recursos escassos, enfrentam hostilidades diárias: de xingamentos a agressões físicas. A reforma administrativa proposta em anos anteriores, por exemplo, visava acabar com o regime jurídico único, o que poderia precarizar ainda mais o funcionalismo e abrir espaço para interesses privados, perpetuando o ciclo de deterioração. O resultado é uma população frustrada com filas intermináveis, falta de medicamentos e burocracia ineficaz, culpando os servidores pelo colapso sistêmico.

A baixa qualidade da educação pública ao longo das décadas completa esse quadro, atuando como um catalisador para a perpetuação da pobreza e da violência. O Brasil ainda registra 4,2 milhões de estudantes com atraso escolar de dois anos ou mais em 2025, representando 12,5% das matrículas, e uma taxa de analfabetismo de 5,3% entre pessoas com 15 anos ou mais. Essa precariedade educacional, marcada por desigualdades entre ricos e pobres, impede o desenvolvimento de habilidades cívicas e críticas, fomentando uma cultura de intolerância e agressividade. A educação de baixa qualidade, especialmente na rede pública que atende 90% dos alunos do ensino básico, contribui para a reprodução da pobreza, pois limita oportunidades econômicas e reforça ciclos intergeracionais de exclusão. Sem uma formação adequada, a população tende a reagir com violência a frustrações cotidianas, como a demora em atendimentos públicos, direcionando essa ira contra servidores que, ironicamente, também sofrem com o sistema. Pesquisas destacam que a educação é essencial para romper com a pobreza e reduzir a violência, mas cortes de verbas e falta de valorização de professores perpetuam o problema.

Em suma, o aumento da violência contra servidores públicos – evidenciado por propostas legislativas para agravar penas de crimes contra eles, como lesões corporais em profissionais de saúde – é um sintoma de um Brasil marcado por desigualdades históricas. Apesar de avanços recentes na redução da pobreza, o empobrecimento acumulado, aliado ao sucateamento dos serviços e à educação deficiente, cria um ambiente de tensão social que precisa ser enfrentado com investimentos públicos robustos, valorização dos servidores e políticas inclusivas. Somente assim poderemos quebrar esse ciclo e construir uma sociedade mais justa e pacífica.